domingo, 24 de novembro de 2019

Estamos chegando ao fim da História?


                                                                       Por Marcelo Rebinski


A expressão "fim da História" se refere a uma proposição teórica da filosofia política, segundo a qual a humanidade já teria atingindo a apoteose de seu desenvolvimento econômico e social. Para comprender essa filosofia audaciosa, é importante separar a ideia de fim dos tempos, ou de profecias apocalípticas do fim do mundo, comuns em muita doutrinas religiosas ou cultos quase religiosos.
Em 1989, o teórico e comentador político Francis Fukuyama publicou um ensaio controverso intitulado "O Fim da História?" Na seção de assuntos internacionais da revista The National Interest. Fundamental na tese de Fukuyama (desenvolvida a partir de seu livro de 1992, O Fim da História e o Último Homem) é a visão de que a própria história não é uma linha do tempo de acontecimentos conectados ou não conectados, mas um processo evolutivo. O final da década de 1980 viu o colapso dos regimes comunistas nos países que faziam parte da Cortina de Ferro na Europa Oriental, culminando na queda do Muro de Berlim em novembro de 1989. Isso anunciou o fim da Guerra Fria e as décadas de trégua nuclear entre Ocidente e Oriente. Para Fukuyama, a experiência comunista, que segundo Marx substituiria de maneira natural e necessária o capitalismo, falhara, deixando a democracia liberal do Ocidente como uma ideologia política e social dominante que forma a base para a manutenção das sociedades civis. Fukuyama alega que, desde a Revolução Francesa  (1789 - 1799), a história moderna tem se caracterizado pelo desenvolvimento de ideologias conflitantes quanto à organização da sociedade, culminando na formação das democracias capitalistas Ocidentais. Isso não quer dizer que a história tenha parado e que não haverá mais acontecimentos, mas que não haverá mais nada de novo em ideologia política.
A teoria de Fukuyama acendeu um debate furioso entre os estudiosos. Para muitos pensadores de inclinação esquerdista, como o filósofo francês Jacques Derrida (1930 - 2004), o ensaio de Fukuyama não passa do triunfalismo de um canto fúnebre neoconservador para desacreditar o marxismo e reinvindicar superioridade ideológica para o capitalismo de livre mercado. A fim de contestar a teoria de Fukuyama, Derrida ressalta a desigualdade óbvia dominante no mundo e o fato de que isso pode ser visto como um subproduto concominante do capitalismo: "porque é preciso gritar, no momento em que alguns ousam neoevangelizar em nome de uma democracia liberal finalmente consumada como o ideal da História humana, é necessário dizer bem alto: nunca a violência, a desigualdade, a exclusão, a fome e, portanto, a opressão econômica afetaram tantos seres humanos na história da terra e da humanidade". Jacques Derrida, Espectros de Marx (1983).
Fukuyama usou a queda do Bloco Oriental e a rápida mudança de economia centralizada e estados unipartidários para estados democráticos de livre mercado com evidência empírica de que os sistemas democráticos liberais tinham vencido à guerra ideológica contra o marxismo, que havia florescido e predominado em muitos lugares logo após o período do pós-guerra. O fato de o racismo, a pobreza e a desigualdade social continuarem a existir nessas "utopias" liberais era uma infelicidade, mas não restavam novas ideologias políticas ou movimentos revolucionários organizados capazes de combater a ideologia dominante. Ou seja, a democracia ainda é a melhor forma de governo, pois como disse Winston Churchill em 1947 num discurso na Câmara dos Comuns: "a democracia é a pior forma de governo, exceto todas as outras formas que têm sido experimentadas de tempos em tempos". 
Será essa cessação de ideologias sociopolíticas realmente verdadeira? A ascenção ao poder econômico e militar de estados unipartidários como a China, a Coreia do Norte e, em certa medida, a Rússia de Vladimir Putin parece sugerir que o comunismo está longe de estar morto como sistema social e político. O Movimento Quinta República, do antigo presidente da Venezuela, Hugo Chávez, demonstrou que o apoio popular ainda podia ser usado em nome do socialismo tradicional. É interessante lembrar que Chávez atacou diretamamente o fim da História de Fukuyama durante um pronunciamento na Assembleia das Nações Unidas em 2006. Fukuyama reagiu argumentando que o superestado socialista de Chávez só seria possível se fosse custeado pelas reservas de petróleo venezuelano descobertas na época em que Chávez adquiriu destaque político, estado assim, no fim das contas, incluído na ideologia capitalista.
A tese do fim da História de Fukuyama também foi contestada depois dos ataques aos Estados Unidos em 11 de setembro de 2001. O avanço do fundamentalismo islâmico com seu claro antagonismo pelas democracias liberais do Ocidente é um exemplo claro de dissidência clamorosa e organizada. A crise financeira de 2008 deu origem também ao movimento Occupy Wall Street, com seus protestos em centros financeiros de Londres e Nova York. As demonstrações antiausteridade em partes da Europa, embora fragmentadas, mostram que Fukuyama pode ter sido um pouco apressado ao dizer que a história acabou e que não haverá mais de novo na evolução da ideologia humana social, política e econômica da espécie humana. 

Fukuyama errou: a história estará  sempre viva enquanto houver um grupo humano sobre a face da terra, haverá antagonismos ideológicos de ordem política, social e econômica. A Historia  é  ad aeternum.






Referência Bibliográfica:

As grandes questões existenciais da humanidade. Alain Stephen; tradução Carlos Augusto Leuba Salum, Ana Lúcia da Rocha Franco - São Paulo: Cultrix, 2017.






quarta-feira, 13 de novembro de 2019

Textos discursivos sobre História do Brasil

Este Blog, publica os melhores textos discursivos sobre temas da História do Brasil. Os textos foram produzidos por alunos dos terceiros anos do ensino médio do Colégio Professor Brasílio Vicente de Castro.




terça-feira, 15 de agosto de 2017

Criacionismo: existe um Deus?

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"Não sei se Deus existe. Mas seria melhor para Sua reputação que Ele não existisse." 

Jules Renard (1864-1910)

Seja qual for o significado da palavra "Deus", as discussões atuais acerca da teoria Criacionista supõe que de alguma forma Deus existe. O debate é terno, mas voltou a tona recentemente graças ao livro de Richard Dawkins, Deus, um delírio. Os que não acreditavam em Deus citam em seu favor a ausência de provas objetivas da existência de qualquer tipo de ser supremo, quanto mais do Deus criador das religiões bíblicas. Atualmente, a biologia evolutiva e a astrofísica (física cósmica) absorveram o conceito de Deus ao dar conta satisfatoriamente das inciativas que antes era atribuídas à onipotência divina. Voltaire (1694-11778) disse a famosa frase: "Se Deus não existisse, teríamos que inventá-lo." A implicação é que a biografia de Deus fosse escrita, sua concepção poderia ter ocorrido quando nossos antigos ancestrais, temerosos, estupefatos e desesperados para explicar o ambiente hostil onde lutavam para sobreviver e precisando de ajuda de um ser superior, começaram a fazer perguntas. Para eles, a ideia de um deus - ou deuses - manifestado nas forças da natureza servia como resposta.
As crenças primitivas dos primeiros seres humanos foram sinceras, mas depois povos mais sofisticados usaram a possível existência de Deus como forma de apostar nos dois lados. O filósofo e matemático francês Blaise Pascal (1623-1662) é famoso por sua aposta: ele sugeriu que embora jamais provar a existência de Deus por meio da razão, deveríamos nos comportar como se Ele realmente existisse, porque, ao viver a vida de acordo com tal premissa (pensamento), nós teríamos tudo a ganhar e nada a perder. Albert Camus (1913-1960) - esse é contemporâneo - tinha a mesma opinião: "Prefiro viver como se Deus existisse e descobrir que Ele não existisse e descobrir que existe ao morrer". Contudo, a noção de apostar nos dois lados na questão da existência de Deus sugere uma atitude pouco séria, e a maioria das pessoas envolvidas neste debate provavelmente achariam insatisfatório um agnosticismo (doutrina que reputa a existência de Deus, dos seres humanos e do universo sem a devida comprovação pelo método empírico - científico -) que tentasse a Providência Divina, visto que o agnosticismo implica ter a "mente aberta."
Quando as pessoas dizem "eu acredito em Deus", como no Credo dos Apóstolos ou em outras informações, o ateu deve acreditar que todos estão iludidos? Já se disse que uma pessoa com experiência nunca está à mercê de uma pessoa com um argumento, e este parece ser um ponto de vista reconfortante, mas não se nós queremos "provas" da validade desta experiência a fim de compartilhá-la. Contudo, é possível que sempre tenhamos feito a pergunta errada, visto que a "existência" pode ser atribuído totalmente incorreto para se atribuir ao Divino. Em vez de perguntar se Deus existe, talvez devêssemos perguntar se Deus está nos persuadindo, silenciosamente nos instigando, chamando nossa atenção. Rudolph Otto (1889-1937) escreveu sobre o "numinoso", e a sensação de urgência do "outro", através da qual nós ficamos cientes de que "algo" nos atingiu, mas não temos muita certeza do quê. Podemos achar que é possível identificar isso confortavelmente com a ideia de Deus, mesmo que ela só possa ser compartilhada com os que a reconhecem como algo familiar. Tal subjetivismo compartilhado, embora fundamentado pelas escrituras e pelos credos, não constitui prova de que existe um Deus. Pode ser que essa intuição funcione como validação que articule tudo isso. Como o apostador Pascal perceptivelmente afirmou, "o coração tem razões que a própria razão desconhece". 
Definitivamente, os filósofos aqui citados apresentam suas "razões" para "acreditar em algo" superiormente, superior. Que age sobre nós, imaterial e subjetivo. Reconhecendo, mesmo que sem uma conclusão científica e material, que um motriz principal que regem as coisas do universo.
Retornando a celebre frase de Pascal será que o coração tem razões que a própria razão desconhece?"


Referencias Bibliográficas:

Kleinman, Paul: O pensamento filosófico da antiguidade a atualidade. São Paulo: Editora Gente, 2004



segunda-feira, 17 de julho de 2017

Política, Ética e Religião

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Primeiramente, considero haver em nós certas noções primitivas, as quais são como originais, sob cujo padrão formamos todos os nossos outros conhecimentos.
Descartes 



É possível que o iluminismo seja mais significativo por suas conquistas políticas. Durante aquele período, ocorreram três diferentes revoluções: a revolução inglesa, a norte-americana e a francesa. Enquanto os filósofos iluministas começaram a direcionar o pensamento para a natureza humana e se tornaram críticos em relação ás verdades estabelecidas pela Igreja e a monarquia, a atmosfera sociopolítica também passou a ser examinada.
Os simpatizantes das revoluções consideravam que a autoridade política e social estava fundamentada em tradições obscuras e em mitos religiosos e, assim, começaram a divulgar ideias de liberdade, igualdade, direitos humanos e a necessidade de um sistema político legítimo. Os filósofos não apenas criticavam o governo, mas também criavam teorias de como deveriam ser. É a partir desse momento que as pessoas começam a adotar ideias como direito à liberdade religiosa e a necessidade de um sistema político com limites e contrapartidas. Nessa época, os trabalhos de John Locke e Thomas Hobbes foram os mais influentes.
Conforme a perspectiva política e social começou a mudar, também as pessoas transformaram a própria visão a respeito de ética e religião. Com o crescimento da industrialização e urbanização, assim como das guerras sangrentas em nome da religião, as pessoas (e, com certeza, os filósofos) começaram a questionar a motivação por trás da felicidade, da moralidade e da religião. Em vez de buscar a felicidade na união com Deus ou na determinação do que torna algo bom de acordo com a religião de cada um, os filósofos voltaram-se para a natureza humana e fizeram perguntas como: O que torna alguém feliz nesta vida?
Os filósofos iluministas voltaram-se para a religião com objetivo de livrá-la da superstição, do sobrenatural e do fanatismo (hoje muito evidente em igrejas de caráter neopentecostais), defendendo um modelo mais racional. A raiva contra a Igreja Católica cresceu e o protestantismo começou a se tornar mais popular. Durante o Iluminismo, a religião começou a assumir quatro formas:

1. Ateísmo: a ideia, proposta por Denis Diderot, de que os humanos não devem buscar um ser sobrenatural para descobrir os princípios da ordem natural,mas em vez disso, procurá-los dentro de si mesmo em seus processos naturais. O ateísmo era mais comum na França durante o Iluminismo do que em qualquer outro lugar.

2. Deísmo: essa crença de que há um ser supremo que criou e governa o universo e que tinha um plano constante para a criação desde o princípio; porém, o ser supremo não interfere com as criaturas. O deísmo é mais comumente associado como a religião do Iluminismo. O deísmo rejeita a ideia dos milagres e revelações especiais e, em vez disso, argumenta que a luz natural é a prova real de que existe um ser supremo. Os deístas rejeitam a divindade de Jesus Cristo e, ao contrário, propõem que ele seja visto como um excelente professor moral. Essa teoria também possibilitou descobertas nas ciências naturais, por acreditar que Deus criou a ordem.

3. Religião do coração: é a crença de que o Deus associado ao deísmo é também racional e distante das lutas constantes da humanidade (e, dessa forma, não serve ao propósito da religião que supostamente deveria servir). A religião do coração, adotada especialmente por Rousseau e Shaftesbury, apoia-se nos sentimentos humanos. Embora, às vezes, seja considerada uma forma de deísmo, a religião do coração é uma religião "natural", notável pela ausência de "formas artificiais de adoração" e fundamento metafísico. Em seu lugar, a ênfase real recai sobre as emoções humanas.

4. Fideísmo: um dos trabalhos mais importantes surgidos no Iluminismo foi o livro Diálogos sobre a religião natural, de David Hume (um ateísta). Publicado em 1779, após a sua morte, a obra critica a suposição de que o mundo foi criado e é de autoria de um ser supremo porque o ser humano e a razão existem. O fideísmo afirma que o racionalismo crítico não consegue eliminar a crença religiosa porque ela é muito "natural". Essencialmente, de acordo com o fideísmo, um indivíduo não precisa de razões para sua crença religiosa; tudo de que precisa é sua fé. Algumas formas de fideísmo vão mais longe e afirmam que as crenças religiosas podem ser legítimas mesmo que se oponham ou entrem em conflito com a razão. Com essa rejeição ao pensamento tradicional e preestabelecido pelos gregos antigos e com sua ênfase no conhecimento humano e na razão, O Iluminismo revolucionou completamente a maneira como as pessoas viam a filosofia, a ciência, a política e a sociedade como um todo e mudou para sempre os rumos da filosofia ocidental.
Assim, o texto anterior, baseado nos princípios de uma religião medieval defendida pela filosofia cristã se opõem, de certa forma, ao pensamento moderno levantado pelos principais precursores do Iluminismo, quanto atual leitura da religião cristã mo período moderno. 
Por fim, é relevante relembrar que durante a Idade Média a filosofia cristã defendia a tese de que a fé e a razão eram inseparáveis, oposição ao Iluminismo que caracteriza, segundo David Hume que o indivíduo não precisa de razões (razão no estrito termo da palavra) para suas crenças religiosas. Apenas da fé. 

Referencias Bibliográficas:

MARCONDES, Danilo. Textos básicos de Filosofia. Rio de Janeiro: Zahar.
TRUC, Gonzague. História da Filosofia - o drama do pensamento através dos séculos. Trad. Ruy flores Lopes e Leonel Vallandro. Porto alegre: Globo, 2006.

domingo, 16 de julho de 2017

Cristianismo, Filosofia e a Pratística

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Deus e as coisas que são de Deus são em tudo melhor.
Platão


Muitas são as discussões acerca da ligação entre cristianismo e a Filosofia, ou seja do cristianismo filosófico.
Para alguns especialistas o cristianismo é uma Filosofia, enquanto outros defendem a ideia contrária, afirmando que o cristianismo não é uma Filosofia.
Sabe-se que a Filosofia baseia-se na razão e o cristianismo origina-se na palavra de Deus e ensinamentos de Jesus, transcritos na Bíblia.
No cristianismo, ao morrer e ressuscitar, Jesus Cristo tornou-se redentor dos seres humanos. Na Filosofia, contudo, existe uma relação em vida entre mestre e discípulo.
Por outro lado, o cristianismo não tem a pretensão de ser uma filosofia racional, o que está claro com a ideia da santíssima trindade (doutrina cristã que professa um único Deus, preconizado em três pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo).
Outra diferença é que, na Filosofia, busca-se a verdade através da razão; já o cristianismo está centrado na fé em Jesus Cristo, o que estabelece uma caráter histórico à religião.
Apesar de aparente separação entre a Filosofia e o cristianismo, alguns líderes religiosos baseiam-se nas teorias dos filósofos para elaborar suas próprias doutrinas religiosas. (tome por base alguns papas como Bento XVI - catedrático em Filosofia e mais de seiscentos artigos, dos quais a maioria acerca da Filosofia e da religião). São Tomás de Aquino, por exemplo, utilizava-se alguns conceitos elaborados em Aristóteles.
Isso acontecia porque, durante a Idade Média, a Filosofia grega foi muito importante para a Igreja, pois, por meio do estudo dos filósofos clássicos, os líderes religiosos conseguiram dominar e/ou destruir os descendentes na fé. Assim, a Igreja utilizou-se de meios racionais e lógicos, em seu favor, para, logo depois, fazê-los acreditar e aceitar a fé cristã.
O cristianismo apresenta sim uma dimensão reflexiva e teórica. Os dogmas da fé cristã, por exemplo, procuram explicar certos elementos de nosso estado humano.
Nesse sentido, o cristianismo não é uma Filosofia propriamente dita, nos moldes que a conhecemos, porém o pensador cristão deve tratá-lo com coerência racional, em função da Filosofia.

A Filosofia patrística (Filosofia cristã)

A Filosofia patrística predominou no período  de decadência do Império Romano, durante o século III.
Essa é uma Filosofia cristã constituída pelo conjunto de pensamentos do clero da Igreja católica desse período, ou seja, consiste em uma visão racional dos princípios religiosos do catolicismo, na formalização doutrinal das verdades da fé do cristianismo contra as visões contrárias à fé católica, às quais eles chamavam de heresias.
As ideias veiculadas na Filosofia patrística procurava explicar a relação existente entre a fé e a razão, a natureza do divino, a importância da moral na vida humana. Nesse conjunto, os autores também davam extrema importância à alma.
Para o clero que representava a patrística, era de suma importância que o povo conseguisse controlar a paixão com racionalidade, além de ser imprescindível ter uma ética rigorosa.
A Filosofia patrística inspirou-se na grega, afirmando ser a expressão terminada da verdade, não obtida pelos filósofos gregos que a buscavam. Para esses pensadores religiosos, a verdade não havia sido respondida pelos gregos porque Deus ainda não havia se manifestado, e para a patrística, Deus é a única e soberana VERDADE.

O notório representante da Filosofia patrística: Santo Agostinho

Entre os principais e mais conhecidos representantes dessa Filosofia estão: Clemente de Alexandria (aproximadamente 150 a 215), Orígenes e (aproximadamente 185 a 253) Tertuliano (aproximadamente 155 a 222). Contudo, seu representante mais notório é Aureliano Agostinho (354 a 430), mais conhecido como Santo Agostinho.
Filho de Patrício, Agostinho foi criado em uma atmosfera extremamente fervorosa nos moldes da fé cristã.
Na juventude, quando esteve em Cartago para se aprofundar nos estudos, Agostinho viveu de forma bastante desgarrada, sem se importar com os princípios proclamados pelo cristianismo e caindo em profunda sensualidade e luxuria. 
Bastante inteligente e com uma excelente oratória, após terminar os estudos abriu uma escola em Cartago e passou a lecionar retórica. Posteriormente, lecionou em Roma e, em 384 em Milão, abandonando a carreira dois anos mais tarde, em 386 por motivos de saúde e mais tarde por questões religiosas e espirituais.
Agostinho, ainda na juventude, foi fortemente influenciado pelo maniqueísmo, corrente filosófica-cristã cujo fundamento é a dualidade: bem e mal, claro e escuro, etc. Os maniqueístas acreditavam que sua Filosofia era o verdadeiro cristianismo.
Mais tarde, já maduro e realizando um exame crítico de si mesmo, Agostinho teve contato com a Filosofia neoplatônica,  abraçando-a e abandonando o maniqueísmo.
O neoplatonismo é uma corrente filosófica que promoveu uma releitura do pensamento de Platão. A essência dessa filosofia era, contudo, uma visão cristã romana.
Os neoplatonistas pretendiam fortalecer o cristianismo, identificando e associando o pensamento de Platão a essa religião, misturando razão e fé, pois, para eles, ter fé é antes de mais nada uma ato de razão.
Eles justificavam os dogmas católicos pela razão e divulgavam que era necessário primeiro conhecer para depois crer. 
Ao ler as epístolas (cartas) do apóstolo Paulo na Bíblia, Agostinho acreditou ter recebido uma revelação divina, pois suas dúvidas desapareceram. Assim, influenciado pela mãe, pelo neoplatonismo e por essa revelação, ele abraça a fé cristã, batizando-se em 387.
Em seguida, Agostinho voltou para a África, onde se dedicou aos estudos e orações.
Agostinho foi ordenado sacerdote, e, em 395, sagrado bispo,na cidade de Hipona, na África, onde teve grande atuação episcopal. Em 397, escreveu a obra Confissões e, em 426, terminou de elaborar outra, a conhecida Cidade de Deus.
Agostinho faleceu em Hipona no ano de 430. Ele é considerado o maior representante da Filosofia patrística; e sua obra é tida como extremamente relevante para o cristianismo, pois ele se posicionava contra as heresias e a culpa que os pagãos tentavam impor ao cristianismo pela invasão de Roma em 410.
Para Agostinho, o ser humano tem em sua essência uma inclinação para o mal, pois já nasceu como pecador, devido ao pecado original de Adão e Eva, narrado na Bíblia.
Tanto é a importância do pensamento filosófico cristão de Agostinho que o Papa Emérito Bento XVI, o 265º na atual hierarquia, - o qual considero o Papa mais intelectual da Igreja Católica - "bebe" em seus artigos e encíclicas do legado cristão de Agostinho. Afirmando que razão e fé são indissociáveis 

Referencias Bibliográficas:

ARISTÓTELES. Arte retórica e arte poética. Rio de Janeiro: Ediouro, 1993.
AGOSTINHO, Santo. A cidade de Deus. São Paulo: Vozes, 2014.
BORNE, Étienne. O problema do mal: mito, razão e fé. São Paulo: É Realizações, 2014.
BENTO XVI. O último testamento. São Paulo: Planeta, 2017.
FRANCISCO, Papa. O Papa da simplicidade. Rio de Janeiro: Agir, 2017
KARNAl, Leandro. Pecar e perdoar: Deus e o homem na História. Rio de Janeiro: Harper Collins, 2015.
REBINSKI, Marcelo. Paulo: o apóstolo da ironia: Suas cartas e a propagação do cristianismo. Revista de História. São Paulo: Unicamp, 2016.