Primeiramente, considero haver em nós certas noções primitivas, as quais são como originais, sob cujo padrão formamos todos os nossos outros conhecimentos.
Descartes
É possível que o iluminismo seja mais significativo por suas conquistas políticas. Durante aquele período, ocorreram três diferentes revoluções: a revolução inglesa, a norte-americana e a francesa. Enquanto os filósofos iluministas começaram a direcionar o pensamento para a natureza humana e se tornaram críticos em relação ás verdades estabelecidas pela Igreja e a monarquia, a atmosfera sociopolítica também passou a ser examinada.
Os simpatizantes das revoluções consideravam que a autoridade política e social estava fundamentada em tradições obscuras e em mitos religiosos e, assim, começaram a divulgar ideias de liberdade, igualdade, direitos humanos e a necessidade de um sistema político legítimo. Os filósofos não apenas criticavam o governo, mas também criavam teorias de como deveriam ser. É a partir desse momento que as pessoas começam a adotar ideias como direito à liberdade religiosa e a necessidade de um sistema político com limites e contrapartidas. Nessa época, os trabalhos de John Locke e Thomas Hobbes foram os mais influentes.
Conforme a perspectiva política e social começou a mudar, também as pessoas transformaram a própria visão a respeito de ética e religião. Com o crescimento da industrialização e urbanização, assim como das guerras sangrentas em nome da religião, as pessoas (e, com certeza, os filósofos) começaram a questionar a motivação por trás da felicidade, da moralidade e da religião. Em vez de buscar a felicidade na união com Deus ou na determinação do que torna algo bom de acordo com a religião de cada um, os filósofos voltaram-se para a natureza humana e fizeram perguntas como: O que torna alguém feliz nesta vida?
Os filósofos iluministas voltaram-se para a religião com objetivo de livrá-la da superstição, do sobrenatural e do fanatismo (hoje muito evidente em igrejas de caráter neopentecostais), defendendo um modelo mais racional. A raiva contra a Igreja Católica cresceu e o protestantismo começou a se tornar mais popular. Durante o Iluminismo, a religião começou a assumir quatro formas:
1. Ateísmo: a ideia, proposta por Denis Diderot, de que os humanos não devem buscar um ser sobrenatural para descobrir os princípios da ordem natural,mas em vez disso, procurá-los dentro de si mesmo em seus processos naturais. O ateísmo era mais comum na França durante o Iluminismo do que em qualquer outro lugar.
2. Deísmo: essa crença de que há um ser supremo que criou e governa o universo e que tinha um plano constante para a criação desde o princípio; porém, o ser supremo não interfere com as criaturas. O deísmo é mais comumente associado como a religião do Iluminismo. O deísmo rejeita a ideia dos milagres e revelações especiais e, em vez disso, argumenta que a luz natural é a prova real de que existe um ser supremo. Os deístas rejeitam a divindade de Jesus Cristo e, ao contrário, propõem que ele seja visto como um excelente professor moral. Essa teoria também possibilitou descobertas nas ciências naturais, por acreditar que Deus criou a ordem.
3. Religião do coração: é a crença de que o Deus associado ao deísmo é também racional e distante das lutas constantes da humanidade (e, dessa forma, não serve ao propósito da religião que supostamente deveria servir). A religião do coração, adotada especialmente por Rousseau e Shaftesbury, apoia-se nos sentimentos humanos. Embora, às vezes, seja considerada uma forma de deísmo, a religião do coração é uma religião "natural", notável pela ausência de "formas artificiais de adoração" e fundamento metafísico. Em seu lugar, a ênfase real recai sobre as emoções humanas.
4. Fideísmo: um dos trabalhos mais importantes surgidos no Iluminismo foi o livro Diálogos sobre a religião natural, de David Hume (um ateísta). Publicado em 1779, após a sua morte, a obra critica a suposição de que o mundo foi criado e é de autoria de um ser supremo porque o ser humano e a razão existem. O fideísmo afirma que o racionalismo crítico não consegue eliminar a crença religiosa porque ela é muito "natural". Essencialmente, de acordo com o fideísmo, um indivíduo não precisa de razões para sua crença religiosa; tudo de que precisa é sua fé. Algumas formas de fideísmo vão mais longe e afirmam que as crenças religiosas podem ser legítimas mesmo que se oponham ou entrem em conflito com a razão. Com essa rejeição ao pensamento tradicional e preestabelecido pelos gregos antigos e com sua ênfase no conhecimento humano e na razão, O Iluminismo revolucionou completamente a maneira como as pessoas viam a filosofia, a ciência, a política e a sociedade como um todo e mudou para sempre os rumos da filosofia ocidental.
Assim, o texto anterior, baseado nos princípios de uma religião medieval defendida pela filosofia cristã se opõem, de certa forma, ao pensamento moderno levantado pelos principais precursores do Iluminismo, quanto atual leitura da religião cristã mo período moderno.
Por fim, é relevante relembrar que durante a Idade Média a filosofia cristã defendia a tese de que a fé e a razão eram inseparáveis, oposição ao Iluminismo que caracteriza, segundo David Hume que o indivíduo não precisa de razões (razão no estrito termo da palavra) para suas crenças religiosas. Apenas da fé.
Referencias Bibliográficas:
MARCONDES, Danilo. Textos básicos de Filosofia. Rio de Janeiro: Zahar.
TRUC, Gonzague. História da Filosofia - o drama do pensamento através dos séculos. Trad. Ruy flores Lopes e Leonel Vallandro. Porto alegre: Globo, 2006.
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