APP – SINDICATO, a madrasta má dos educadores
Getúlio Vargas entrou para a história do Brasil não pelo desfecho do suposto suicídio, mas pela política populista que marcou o Estado Novo. Getúlio eternizou-se pela prática da ambiguidade política. Fora “o pai dos pobres e mãe dos ricos”. Passado mais de meio século, a política brasileira repete a mesma prática getulista. Não existe mais a concepção do que se pode, efetivamente, definir como esquerda ou direita. Hoje, nossa classe política quando o assunto é posicionar-se com relação a sua identidade ideológica a resposta é sempre a mesma: sou estadista.
Tirocínio puro justificaria os tais estadistas. Porém, não passa de uma forma fugaz de mascarar aquilo que outrora chamávamos de “em cima do muro”.
E, é ai que eu, como uma boa parte de milhares de educadores deste nosso amado Paraná não aguentamos mais ler e acreditar nas notícias que entremeiam nossa categoria e este malfadado governo.
Temos de um lado; uma gestão neoliberal, incompetente e que não cumpre com austeridade administrativa e parcimônia o que lhe foi delegado pelo voto popular através das urnas. Uma administração que desde seu início tem promovido um verdadeiro colapso em todas as áreas de suma importância para promoção do bem-estar social, da justiça e da igualdade.
Um governador que em entrevista ao programa Roda Viva (TV Cultura) classifica de “grevezinha” a paralisação de cinco dias que os professores e educadores promoveram no último 23 de abril. Deixando no “ar” se o diminutivo foi usado para medir a duração da greve (que Betinho achou curta) ou se foi em razão da desimportância que ele atribuiu ao movimento que deixou, aproximadamente, um milhão de estudantes sem aula.
De outro; um Sindicato que até agora, desde que o “xoque de jeistão” começou a figurar como programa da administração de Beto Richa mantém-se na iniquidade de pecar como uma madrasta malvada e maléfica para com seus enteados, tal como nos contos das feiticeiras onde a vítima é sempre o mais fraco, no caso, nós professores e educadores.
Talvez a razão para podermos entender o que realmente vem acontecendo durante estes quase quatro anos entre governo e sindicato não seja tão difícil assim de elucidar, ou pelo menos, imaginar.
Seria desnecessário mensurar neste curto espaço a atuação da APP-Sindicato como uma entidade de classe realmente comprometida com os interesses da educação. Só para relembrar, foram inúmeras rodadas de negociações que do ponto de vista prático tiveram avanços pífios. O “cavalo encilhado” passou diversas vezes para que a pauta de reivindicações dos educadores fosse atendida e contemplada.
Mas porque se demorou tanto para tomar uma atitude mais eficaz e enérgica com relação a este desgoverno? Por que tantas rodadas de negociações que não levaram a nada? Por que uma greve que durou apenas cinco dias e que tinha como pauta de negociação mais de 50 itens terminou com promessas evasivas e que não contemplou praticamente nada da endêmica situação da educação paranaense?
Simples! Por que temos um sindicato corporativista e oligárquico que vem se perpetuando no poder há décadas. Por que aquele velho sindicalismo de vanguarda que outrora tinha como único objetivo a defesa ferrenha da classe trabalhadora tornou-se nos dias de hoje um agrupamento atrelado ao poder econômico e aos interesses políticos e pessoais de seus lideres. E, foi exatamente o que se viu nesta última greve dos professores. De ambos os lados – governo e sindicato – imperou-se o jogo do interesse político em detrimento da pauta de negociação e das reivindicações dos educadores que infelizmente, acabaram virando massa de manobra.
Beto Richa tem razão ao dizer que promovemos uma “grevezinha”. No jogo político das negociações, o governo em duas rodadas liquidou completamente a fatura a seu favor, restando a nós educadores apenas o consolo da promessa, retornando as nossas escolas da mesma forma que entramos no movimento: com as mãos vazias!
Se Getúlio Vargas foi para a história o que os anais registram, a APP-Sindicato tem sido uma mãe para Beto Richa e uma verdadeira madrasta horripilante dos contos de fadas para nós, pobres mortais educadores.
P.S: Que venha Outubro!
Marcelo Rebinski é professor de História na rede pública e particular de ensino e do curso de licenciatura em História do Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI – Curitiba.