"Não seja moral demais. Você pode boicotar de muita coisa na vida. Mire acima da moralidade. Não seja apenas bom, e sim útil."
Henry David Thoreau (1817-1862)
Antes de iniciarmos, pode ser útil fazer uma distinção entre moralidade e ética. No uso comum das palavras são intercambiáveis, mas existem diferenças importantes. Em termos amplos moralidade se refere ao comportamento individual que pode ou não obedecer e aceitar padrões, enquanto a ética está preocupada com o comportamento social, julgado pelos princípios de um sistema ético. Existem formas de comportamento aceitáveis em situações privadas ou dentro de um grupo familiar que seriam inaceitáveis num contexto mais amplo. As duas palavras se preocupam como o comportamento comum, o jeito como as pessoas fazem as coisas, e ambos implicam um padrão. A moralidade tenta determinar se um comportamento é "bom" ou "mau", enquanto a ética se preocupa com o estudo deste assunto. Existe uma ramificação da ética chamada "ética normativa", cujo objetivo é determinar o que devemos ou não fazer num contexto social, e nosso comportamento é comparado em relação a esse padrão implícito, sendo considerado "certo" ou "errado". Em termos formais, esse padrão é codificado como lei. A pergunta busca saber se nós precisamos de tal código, seja como lei criminal ou comum, ou consagrado na tradição oral.
Não sabemos quando a ideia de moralidade se desenvolveu pela primeira vez. Nas primeiras comunidades humanas uma sensação de certo e errado teria sido criada pela necessidade, e o objetivo único de sobreviver teria definido os parâmetros dessa necessidade. Nenhuma pessoa que se comportasse de forma a ameaçar a sobrevivência de um indivíduo ou do grupo teria sua atitude tolerada, e lidava-se com esse comportamento inadequado de acordo com a situação. Os padrões de comportamento acabaram sendo desenvolvidos e viraram a norma aceita, seja por uma tribo ou alianças de tribos, e esses padrões teriam sido uma protoética que se desenvolveu como uma série de padrões comuns para um grupo. Partindo desse começo simples, o conceito de "ética" agora se aplica a assuntos especializados como "ética médica" e "ética nos negócios". Especialistas à parte, a ética diz respeito a todos nós, como pessoas que vivem em grupos. Na cultura ocidental a influência dominante é o sistema ético baseado na tradição judaico-cristã, cujo núcleo está nos Dez Mandamentos interpretados no Sermão da Montanha de Jesus. O que isso representava foi absorvido pelo imenso e complexo sistema de leis civis, criminais e eclesiásticas que foram indispensáveis ao desenvolvimento da civilização ocidental.
Nenhuma sociedade conseguiria sobreviver sem um código moral, especialmente uma tão sofisticada quanto a nossa. Sem diretrizes estabelecidas de comportamento e os meios para aplicar as leis que as expressam, seríamos ingovernáveis e reduzidos à anarquia. Como diz Thomas Hobbes (1588-1679), a vida seria "solitária, pobre, grosseira, bruta e breve." Para expressar de outra forma, viver sem nenhum tipo de código moral ou sistema ético exigiria da sociedade a mais extraordinária maturidade, com todos vivendo livremente no melhor interesse das outras pessoas. Obviamente isso não é possível nem provável que aconteça, mas de certa forma todos os sistemas éticos podem ser reduzidos a esse princípio. De forma simples, um sistema ético é uma expressão de respeito, não só de uns pelos outros como pela própria vida em si. De acordo com Albert Schwetzer (1875-1965), "a ética...não é nada além da reverência pela vida. Ela fornece o princípio fundamental da moralidade, ou seja, que o bem consiste em manter, promover e aprimorar a vida, e que destruir, ferir e limitar a vida consistem no mal".
Enfim, a moralidade é uma regra de reciprocidade que, afirmada positivamente, exige que você trate os outros como gostaria de ser tratado,e negativamente que evite tratar os outros como não gostaria de ser tratado. Portanto, reciprocamente, precisamos sim de um código moral e de conduta.
Referências Bibliográficas:
Nietzsche, Friedrich, Assim falava Zaratustra, Vozes, 2011.
Hobbes, Thomas, Leviatã. Ícone Editora, 2008.
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