Marcelo Rebinski
Marx foi um defensor das liberdades políticas e individuais, mas também obviamente, não o foi pela via do liberalismo clássico e do seu conceito de liberdade - dos quais sempre foi crítico contundente -, mas sim pela ideia de emancipação humana, de liberdade como não-dominação e não limita os fins da vida política à instrumentalidade jurídica da proteção (formal) da liberdade individual. A liberdade humana, tal qual propõe Marx, incorpora o pensamento, a ação e a produção. É a qual a liberdade que sendo do indíviduo enquanto ser-comunitário efetiva-se na comunidade política mediante a luta contra os mecanismos de dominação e alienação da liberdade humana, aderente à condição do indíviduo como ser social.
A restrição que Marx faz ao Estado de direito burguês, enquanto abstração da condição básica da sociabilidade humana atrelada à imediatividade do vir-junto dos homens, é que este Estado acaba, por força da sua estrutura burocratizante e da redução do político aos aspectos jurídicos, representando os interesses de uma parcela da sociedade e, nessa medida, é importante para garantir os fins maiores e universais da coletividade. Pelo contrário, ele se constitui em fator de alienação e dominação, mediante a "astúcia" política da representação ideológica de interesses particulares.
Para Marx, não há liberdade sob a dominação das forças egoístas da sociedade civil, ou do Estado que incorpora simbolicamente os indíviduos, mas que na verdade os exclui da vida política subtraindo-lhes a soberania. A superação dessa condição de perda da liberdade pela dominação é chamada, por Marx, de emancipação humana.
Se considerarmos que a sociedade contemporânea encontra-se muito distante dos ideais de liberdade individual e política que se propagam quase que tão-somente através de discursos edificantes que não encontram correspondência na realidade, justamente porque a sociedade permanece submetida às estruturas de dominação do capitalismo e do formalismo arbitrário do Estado de direito burguês, podemos concluir que, as categorias de análise de Marx - tanto dos textos da juventude como dos da maturidade - se interpretadas de forma não ortodoxa, podem oferecer alternativas muito interessantes à filosofia política.
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